Sobre limites, superação e tragédias…

Comecei a semana superando alguns limites. Isso é raro.
Cheguei perto de superar a marca dos 12 km numa caminhada matinal. O problema é que isso toma muito tempo e, mesmo saindo às 6:30AM de casa, ainda volto depois das 8:30AM.  E aí o sol “já está apino”.  Gosto de começar a trabalhar cedo.  Não rendo muito se começo tarde.  É uma superstição minha.
Mas continuo nas caminhadas, sem forçar para a corrida.  Meu filho sempre me diz que preciso “forçar meus limites”, mas minha formação técnica me diz outra coisa.  No curso de engenharia, uma das bases de todo cálculo de esforço e carga a que um elemento fica exposto é o que chamamos de “margem de segurança”.  E eu respeito a minha “margem de segurança”.  Uma coluna ou viga de um prédio é calculada não para suportar o prédio em si, mas para suportar dois ou três prédios.  Isso é margem de segurança.  Querer ir além do limite todo dia, empurrando cada vez mais os limites é desrespeitar a margem de segurança.  É arriscar botar o prédio abaixo.  Não é uma boa engenharia.

Por isso continuo nas caminhadas, sem forçar meus limites.  Além disso, tenho consciência de que minha curva de rendimento é descendente, pois já passei dos 50 anos. Não adianta querer empurrar os limites num corpo que a cada dia perde naturalmente sua energia e vitalidade.  Posso, no máximo, retardar essa curva, mas não invertê-la.  Respeito demais a tecnologia e sei que ela não chegou nesse ponto.  E não deve chegar durante meu tempo nesta vida.
Uma vez até um amigo, que me acompanha no Runkeeper me disse que quando eu começasse a correr 5k falasse com ele que correríamos juntos. Declinei a principio, pois não pretendo parar de andar e começar a correr. Sempre andei.  Desde os 9 anos de idade.  Ia para a escola todo dia de manhã.  À tarde atravessava o bairro até a casa de meus colegas de equipe de trabalho para fazer os deveres de casa, ou jogar botão.  Isso todo santo dia.
Adoro caminhada.  É minha hora de estar comigo.  Não uso fones; não ouço músicas; não acesso as redes sociais.  Não faço checkins, nem atualizo status.  No máximo, registro no runkeeper algumas das caminhadas para referência futura.  Gosto desse momento íntimo onde posso pensar o que quiser e elaborar os assuntos do dia.  Sejam os pessoais, sejam os profissionais, ou sejam os acontecimentos inesperados que às vezes acontecem à minha volta.
A minha relação com a caminhada sempre foi mais intelectual do que física.  É uma tática de superação pessoal, onde tento colocar as ideias em dia, esvaziar o copo e colocar água nova nele. Não é uma questão de saúde, melhoria contínua do corpo ou necessidade pós-operatória.  Minha cirurgia só fez eu retomar um hábito que tinha relegado a segundo plano desde que me mudei de volta para São Paulo, há oito anos.
Com isso fico dentro da minha “zona de conforto”, respeitando minhas “margens de segurança” e não corro o risco de desmoronar como vejo constantemente com alguns colegas que sempre interrompem suas atividades por algum problema causado por uma “torção”, distensão ou outra coisa qualquer provocada por andarem, ou correrem, sempre “no limite”.
Numa semana onde templos milenares foram colocados abaixo pois suas margens de segurança não aguentaram a tragédia que se abateu sobre eles, eu, que já enfrentei algumas “tragédias”, não quero estar no limite quando a próxima “chacoalhada” me pegar. E ela virá.  Afinal, como diz Woody Allen: “A Vida é uma doença mortal, sexualmente transmissível“.

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