O perigo da Geração Cabaço!

atualizado em 11 de setembro de 2020

 

Vivemos  um momento único na história: todo mundo, direta ou indiretamente, pode ter acesso a praticamente qualquer informação o tempo todo.  Quase metade da população mundial está nas redes sociais, segundo relatório Global Digital Statshot 2019, confeccionado pelas empresas de dados Hootsuite e We Are Social. E, provavelmente, essa metade conhece a outra. Mas independente de participar de redes sociais, as pessoas podem, a partir de smartphone, tablets, computadores domésticos, lan houses e até smart TVs, acessar a web e buscar qualquer tipo de informação.

 
A nova geração, nascida neste século XXI, não conhece a vida sem esse acesso.  É a Geração C, C de Conectado, de Colaborativo, ou de “Connected Collaborative” como foi definido há alguns anos por Dan Pankraz, diretor da DDB Sydney.  Neste último caso, Pankraz estende essa classificação para as pessoas hoje com até 45 anos, mas que tenham as redes sociais como ponto indispensável da sua “atitude digital”.
 
Essa geração colaborativa tem como diferencial uma participação ativa no acesso à informação, não apenas podendo receber informação sem questionamento, mas algumas vezes processando e gerando conteúdo próprio a partir de suas experiências, preferências e interpretação da realidade.  São não apenas público, mas também publishers.  Eu chamaria parte da Geração C de Geração P, de Publicador. Mas apenas uma minoria consegue realmente chegar nesse nível.  A grande maioria é, realmente, apenas conectada.  Uma pequena parte chega a ser Colaborativa, ajudando na busca, confirmação e exatidão da informação, gerando conteúdo próprio em grupo.  E uma parte ainda menor chega a ser Publisher:  aquele que pode difundir essa informação final, precisa, para os demais. Esse além de ter acesso à informação, discernimento para avaliá-la, confrontá-la e validá-la, também precisa ter uma vasta rede de contatos que confiem em suas publicações. Publicação precisa de público! Muitos publishers hoje não são pessoas, mas grupos ou comunidades online.
 
Essa capacidade de se destacar na multidão, desde o acesso mais básico à informação, até chegar a Publicador de conteúdo, passa por várias fases.  Mas também pode tropeçar num tipo especial de usuário da informação que está se tornando cada vez mais frequente nas redes sociais:  O “Geração Cabaço” (também começa com “C” de Geração C, a principio).  São aqueles que, uma vez tendo acesso fácil a informação, se julgam donos da verdade e se tornam arrogantes em suas posturas, e divulgam informações não confirmadas, maliciosas e às vezes propositalmente erradas; as hoje famosas fake news.  Não aceitam contestação de seus posts (o que vai contra o principio do livre questionamento e colaboração que a internet nos permite).  
 

O Geração Cabaço

Quase sempre, não tem experiência de vida, pois vivem apenas no mundo virtual da rede, sendo insociáveis no mundo real.  Sem amigos, apenas conexões. São voyers da realidade através de uma membrana (a tela do computador, do tablet ou do smartphone) que os separa da experiência real a que apenas assistem. Sabem tudo sobre corrida, mas não se exercitam.  Sabem tudo sobre alimentação, que leram enquanto derramavam migalhas de salgadinhos sobre o teclado. Conhecem lugares, e até opinam sobre eles nos sites de viagens. Do conforto de suas poltronas “gamers”. Mas nunca saíram de frente da tela…e mesmo na eventualidade de terem viajado até o local, foram lá, mas só porque tinha wifi no hotel pra fazerem um post de comida ou da janela do quarto. Vão a shows, mas só para gravar um post para suas redes sociais!
 
A pirâmide dos comportamentos em redes sociais
A Geração Cabaço é talvez a maior armadilha que todo jovem pode cair quando começa a participar nas redes sociais e a perceber que as pessoas confiam no que ele publica.  É preciso que o Geração C (de Conectado, ou colaborador) perceba que é necessário questionar sempre qualquer informação, por mais óbvia que lhe pareça, e que toda crítica ou colaboração pode ser uma oportunidade única de aprimorar a informação e o conhecimento de todos na rede.
 
Essa é a  beleza da rede:  a informação está lá. Quase sempre acessível.  Mas esse acesso fácil também permite que muita informação falsa circule pela rede sem critério.  Por isso a postura de contestação, questionamento e validação deve ser a constante de todos.  No final haverá consenso. Talvez não uma verdade inquestionável; mas um consenso.  E esse talvez seja o C definitivo dessa geração:  a Geração Consenso!
 
Conecte-se!  Colabore!  Não seja Cabaço!  Busque um consenso!

Por último, vale lembrar que o Geração Cabaço não tem o monopólio das fake news. Existem Publishers, Editores e Colaboradores que podem, pelos mais variados motivos, desde erros nos critérios de seleção das fontes, passando pela interpratação dos dados até a própria má fé em si, que podem espalhar fake news. Mas a geração cabaço é pródiga nisso! Se destaca!

Paulo Addair é empresário, consultor e editor, representante da Revista PUBLISH no Brasil desde 2016, colaborando com a publicação desde 1991, quando da esta chegou no país. Também é apresentador do canal de entrevistas PAPONET, antigo TV PUBLISH no Youtube. É especialista em publicação digital e impressão de segurança.

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