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Não foi o sedentarismo que me deu um coração recauchutado. Eu sempre andei.  Caminho quase todo dia desde que me lembro por gente (dúbio, não?). Desde pequeno, quando morava na periferia de Perus…isso mesmo!  Até Perus tem periferia.  Aliás, eu costumava dizer que se Perus ficava fora do mapa de São Paulo, minha casa ficava fora do mapa de Perus. Quando garoto fui consultar o mapa de ruas Mapograf que meu pai usava para fazer seus carretos de combi, notei que a cidade era dividida em páginas distribuídas numa matriz cartesiana, e se o endereço ficasse além da borda de uma página, era só procurar na página seguinte, pois uma era continuação da outra.  Menos Perus.  Perus tinha uma página só para ele.  E não é uma cidade da Grande São Paulo!  É um bairro, subdistrito de Pirituba, onde moro hoje. Depois de Perus, começava o interior!  Perus tinha todas as desvantagens do interior, somadas às desvantagens da periferia!

E a Vila Ignácio (ou Inácio, como se escreve hoje), uma vila nos limites entre Perus e Cajamar, ficava fora do mapa de Perus. Era uma caminhada de 1700 metros desde a Estação de Trem da Santos-Jundiaí, hoje, CPTM.  Marquei a quilometragem espiando o odômetro dos carros de meu pai.  Eu fazia esse caminho desde que mudei para lá, aos nove anos. Minha escola era a poucos metros da estação. Mais tarde mudei para uma escola em Caieiras e aí pega o trem todo dia.  então, era um caminho que fazia duas vezes por dia. Além disso, quando não ia pra escola, gostava de esticar até a outra ponta de Perus, onde hoje é a delegacia, na época apenas conhecido como Fazendinha.   Isso devia dar pelo menos, ida e volta, uns cinco a seis quilômetros por dia.
Cresci caminhando por Perus.  E também andava muito de bicicleta quando adolescente.  Ganhei uma Caloi de meu pai acho que aos quatro anos.  Levei um tombo com rodinha e tudo e fiquei uns quatro anos sem subir naquela bike, uma Caloi Fiorentina aro 14″.  Só voltei a subir nela quase na mesma época em que mudei para a Vila Inácio. Andava muito de bike.  Já fazia em 1967 o que veio a se chamar Down Hill, nos lenheiros da Companhia de Papel Melhoramentos, em Caieiras, que por coincidência ficava ao lado da minha casa.  Uma turma de amigos, cada qual na sua bicicleta, descíamos pelas trilhas dos caminhões que carreavam as toras de eucaliptos que iriam abastecer a fábrica de papel. Uns dez malucos de desembestavam ladeira abaixo entre as árvores derrubadas ou bosques aguardando sua vez.  Era dificil fazer as curvas em alta velocidade. E era muito comum voltar pra casa com alguns hematomas.
Portanto, minha juventude foi com bastante atividade.  Não havia videogames, nem TV a Cabo.  Na verdade, não havia videocassete, internet e a TV era preto-e-branco, de difícil sintonia em Perús.  Ou seja, os únicos instrumentos que tínhamos para nos divertir era a imaginação e o próprio corpo.  Então, era sair para brincar com os vizinhos de pega-pega, jogar bola ou dar a sorte que eu dei em ganhar uma bicicleta.  Resultado:  cheguei à idade do serviço militar com 59 quilos e 1,80m.  Só depois desandei ao sedentarismo.
Mesmo assim, nunca parei de caminhar.  Foi a única atividade diária que restou.  Parei de jogar basquete, minha paixão da adolescência, aposentei as bicicletas, parei de jogar bola.  Me tornei um adulto dedicado à família. Entrei na faculdade à noite para não parar de trabalhar. Mas continuava caminhando sempre que possível.

Não fumo, não bebo, mantenho uma vida regrada. Não tenho colesterol alto, não sou diabético, meus exames estão todos em ordem.  Sempre me cuidei e faço regularmente meus check-ups.  Não tinha perfil de quem ia sofrer um enfarto.  Por isso foi até difícil diagnosticar meu problema nas coronárias.  Foi uma surpresa para o cardiologista o grau de entupimento das três artérias.

Então, o que me deu esse coração recauchutado?

Ora, eu me dei!  Sim, Eu!  Adorava viver um stress!  Não conseguia parar de me estressar com as minhas responsabilidades.  Levo tudo a ferro e fogo.  O trabalho, a família, e até o lazer.  Isso mesmo!  Até nas horas em que deveria estar me divertindo ficava estressado. Dirigir sempre foi estressante para mim. Levava tudo muito a sério!

Por isso, agora pretendo levar tudo na esportiva!  Tudo, mesmo! Literalmente!

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