Não foi o sedentarismo que me deu um coração recauchutado. Eu sempre andei. Caminho quase todo dia desde que me lembro por gente (dúbio, não?). Desde pequeno, quando morava na periferia de Perus…isso mesmo! Até Perus tem periferia. Aliás, eu costumava dizer que se Perus ficava fora do mapa de São Paulo, minha casa ficava fora do mapa de Perus. Quando garoto fui consultar o mapa de ruas Mapograf que meu pai usava para fazer seus carretos de combi, notei que a cidade era dividida em páginas distribuídas numa matriz cartesiana, e se o endereço ficasse além da borda de uma página, era só procurar na página seguinte, pois uma era continuação da outra. Menos Perus. Perus tinha uma página só para ele. E não é uma cidade da Grande São Paulo! É um bairro, subdistrito de Pirituba, onde moro hoje. Depois de Perus, começava o interior! Perus tinha todas as desvantagens do interior, somadas às desvantagens da periferia!
Portanto, minha juventude foi com bastante atividade. Não havia videogames, nem TV a Cabo. Na verdade, não havia videocassete, internet e a TV era preto-e-branco, de difícil sintonia em Perús. Ou seja, os únicos instrumentos que tínhamos para nos divertir era a imaginação e o próprio corpo. Então, era sair para brincar com os vizinhos de pega-pega, jogar bola ou dar a sorte que eu dei em ganhar uma bicicleta. Resultado: cheguei à idade do serviço militar com 59 quilos e 1,80m. Só depois desandei ao sedentarismo.
Mesmo assim, nunca parei de caminhar. Foi a única atividade diária que restou. Parei de jogar basquete, minha paixão da adolescência, aposentei as bicicletas, parei de jogar bola. Me tornei um adulto dedicado à família. Entrei na faculdade à noite para não parar de trabalhar. Mas continuava caminhando sempre que possível.
Então, o que me deu esse coração recauchutado?
Ora, eu me dei! Sim, Eu! Adorava viver um stress! Não conseguia parar de me estressar com as minhas responsabilidades. Levo tudo a ferro e fogo. O trabalho, a família, e até o lazer. Isso mesmo! Até nas horas em que deveria estar me divertindo ficava estressado. Dirigir sempre foi estressante para mim. Levava tudo muito a sério!
Por isso, agora pretendo levar tudo na esportiva! Tudo, mesmo! Literalmente!