Os que não tem nada a ganhar

Estou cansado de ouvir gente falando que todos os problemas da sociedade atual começam nas favelas. Que a violência é culpa daqueles que não tem nada a perder e, por isso, roubam, matam, desobedecem as leis, desafiam as autoridades…
Ou então que a causa vem das drogas, do contrabando de armas, da ausência do estado…
É uma falácia sem fim, sem sentido, como se os excluidos “movessem” a sociedade…Como se fossem as massas da periferia das grandes cidades os verdadeiros responsáveis pela impunidade, pela violência, pela má distribuição de renda, pelo preconceito e por todas as mazelas da humanidade.

Será que eles têm tanto poder assim?

Li em algum lugar, e me pareceu lógico, que é a economia que move o Mundo. E acho bastante plausível. Não é a cultura, os valores morais, a tecnologia ou a política: é apenas a economia. Às vezes, a tecnologia muda o Mundo. Mas só quando ela for economicamente viável. Veja o caso dos telefones celulares: Eles existem desde a década de 70, mas só mudaram a forma como as pessoas se comunicam na segunda metade da década de 90. Me lembro de conversar com um taxista em 93 quando recebi meu primeiro celular e dizer pra ele que ele precisaria de um aparelho daqueles para que seus clientes pudessem chamá-lo a qualquer hora…Ele riu e achou aquilo um absurdo: Um celular, para um taxista? Bobagem.

Nem a religião muda o Mundo. Muito pelo contrário. Desde a invenção das pílulas anti-concepcionais, as igrejas repelem ferozmente o sexo antes do casamento. Antes, não se discutia isso. Não haviam métodos anticoncepcionais baratos e seguros, portanto, não se discutia o assunto. Era óbvio que o sexo antes do casamento não era aceitável.

Quando a tecnologia disponibilizou, de forma econômica, as pílulas, a humanidade se adaptou rapidamente à novidade e mudou a moral e os preceitos religiosos para os novos tempos. Num primeiro momento surgiu até um movimento pelo amor livre e pela liberação sexual da mulher. Bom mas isso já passou há muito tempo, não é?

Mas o que isso tudo tem a ver com a violência, com as drogas, com a corrupção? Novamente, é a economia que provoca as mudanças no mundo. E dessa vez ela tem como cúmplice os meios de comunicação. Pois antes da popularização da internet, televisão e rádio, para se saber alguma coisa era preciso saber ler. Hoje, basta passar em um boteco em qualquer favela e você vê aquele político “safado” sendo desmascarado e não sendo punido pelos seus crimes, depois de “molhar” a mão de alguns de seus comparsas…Tudo em cadeia nacional.

E depois você tem que voltar pra casa, sem a mistura nem o dinheiro pra comprar o gás…

Hoje o analfabetismo não ajuda mais tanto os políticos, pois a televisão lhes expõe de uma maneira muito mais crua. Antes, era fácil levar a população no bico, era só dar um chinelo na véspera da eleição, uma casca-de-asfalto na porta da favela e o pessoal já garantia seu voto. Hoje tá mais difícil.

E essa exposição pública das mazelas e das diferenças de trato e de qualidade de vida que provoca tanta violência. O simples fato de você estar dentro de um carro do ano no cruzamento já o torna um representante daquela oligarquia que se vê na televisão se dando bem. E aquele que nem um “ônibus do ano” tem direito a tomar acaba escolhendo você como bode expiatório de todas as injustiças que ele vê na televisão.

Por isso eu defendo que a decomposição do tecido social não é provocada pele parte excluída pobre da sociedade. Por que ela não tem poder econômico para criar essa violência e não teria como mantê-la. É necessário muito dinheiro para comprar tanta droga, tanta arma ilegal e tantas autoridades que participam da manutenção desse status quo.

E esse poder econômico vem de uma parte da sociedade que também se excluiu da sociedade. E faz questão de manter a situação assim. Pois se a situação mudar, essa parte da sociedade, que vive dentro do ar condicionados de suas mansões, dentro de seus condomínios de luxo onde a lei formal não entra, e que só sai de lá em seus carros blindados, vai perder alguma coisa, para dividir com o restante da comunidade.

São eles que não querem que as coisas mudem pois eles só têm a perder com uma sociedade mais justa. Do jeito que está eles podem tudo. Não precisam seguir as leis pois sempre que houver um problema que vier à tona algum jurista vai absolvê-los. Ou então os recibos da venda das vaquinhas que justificam aquela renda…Ou ainda algum médico renomado vai apresentar uma receita de um remédio que ele tomava e que “tinha como efeitos colaterais a mudança da personalidade”…Se nada mais funcionar, sempre sobrarão os recursos..E réu com nível superior não vai preso…E réu primário também não vai preso…E certas “catigurias” não podem ser julgadas nos tribunais normais…Mesmo que já respondam a dúzias de outros processos…durante décadas…Serão inocentes até que a justiça desista de provar o contrário!

Tudo dentro da lei

Lei essa feita por essa mesma oligarquia. Por aqueles não têm nada a ganhar com as mudanças.

Isso ajuda a explicar por que Brasil é o ante-penúltimo país em uma pesquisa de nível de educação e mantem uma posição parecida na má distribuição de renda. Para sairmos dessas vexatórias posições teríamos que distribuir renda, mas isso só pode ser feito tirando a renda de alguém e redistribuindo…E só uma pequena minoria “excluida” (sim, ela também não faz parte da sociedade, está acima disso!) tem para redistribuir.

Por isso a minha proposta aqui nesse Blog é discutir não as causas das mazelas pois pra mim elas são bem claras e todas começam na nossa elite. Eu quero discutir as ações afirmativas para mudar o pensamento econômico da nossa “DROGA DE ELITE” (um trocadilho com TROPA DE ELITE, que está tão na moda).

Uma DROGA DE ELITE que prefere ficar com 99% da pouca riqueza gerada por uma economia travada, desestruturada e ineficiente que só vem se dando bem por que está sendo puxada a trenós pelas verdadeiras economias fortes do século XXI, o restante do BRIC. Mas um dia a corda pode arrebentar, a adivinha de que lado isso vai acontecer?

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