A ano era 1982! Fui contratado pela Prológica, uma das primeiras empresas a se estabelecerem na recém-urbanizada Av. Eng. Luis Carlos Berrini, que ainda tinha dragas limpando o riacho no canteiro central que seria totalmente canalizado nos anos seguintes.
Minha missão, caso aceitasse (não resisti ao paralelo com a Missão Impossível), era traduzir, editar e imprimir pelo menos 5 mil exemplares do Manual do Usuário do CP 500, um microcomputador de 8 bits que precisava ser entregue no Rio de Janeiro em menos de dois meses. O CP 500 era um “clone” do TRS-80 da Radio Shack, descaradamente pirateado pela emergente, e desestruturada, indústria de microcomputadores nacionais, liderada pela própria Prológica. E como bem me lembrou Renato Sabbatini, concorria com a DISMAC, que fabricava o “Patinho Feio” (D-8000), também clone do mesmo TRS-80 e com a MicroDigital que tinha uma linha de computadores baseada no Sinclair.
O Sinclair era um computador “doméstico” (se é que podemos chamá-lo assim) de baixíssimo custo, quase um brinquedo. Mas tinha recursos suficientes para ser programado com jogos, aplicativos simples e podia gravar sua programação utilizando-se um gravador comum de fita K-7.
A maioria dos computadores CP500 daquele lote de produção seriam entregues à EMBRATEL, para seus funcionários que faziam parte de um projeto inovador de conectividade: o Projeto CIRANDA.
A ideia era que os funcionários conectassem seus computadores via modem de 300 bps (bauds per second), naquela que talvez tenha sido a primeira rede de computadores pessoais do país. A conexão era feita via modens que transformavam os sinais digitais em sons que podiam ser transmitidos usando uma linha telefônica comum.
O termo “computador pessoal” já existia há algum tempo naquela época, desde a criação do Apple II por Steve Jobs. Mas só foi popularizado em 1981, quando a IBM batizou seu computador de PC, para Personal Computer. Na verdade foi um golpe de marketing, pois a IBM não tinha um microcomputador próprio: ela só fabricava de médios para cima. Foi um desafio para ela conseguir software (que comprou de um cara desconhecido chamado Bill Gates), e hardware para montar seu “frankenstein de 16 bits”. E o batizou como Personal Computer, e criou a marca PC.
Mas aqui no Brasil a indústria de microcomputadores ainda levou alguns anos para chegar aos computadores pessoais de 16 bits.
De qualquer forma, aqui tudo começou com um projeto inovador de rede de computadores conectados por modens de 300 bauds.
Bauds era a unidade de medida elétrica dos sinais digitais que trafegavam pela rede telefônica, que faziam um barulho característico ao conectar um computador a outro. Cada baud era um sinal digital transmitido pela linha. Mais ou menos a velocidade em baud por segundo correspondia a velocidade em bits por segundo, porém como para transmitir oito bits (um byte de informação) era preciso os oito sinais dos bits mais dois ou três sinais complementares para marcar o início e o fim da transmissão, sempre se fez muita confusão entre bps, bauds por segundo e a velocidade medida em bits por segundo, também bps. À medida que os modens evoluíram, e entraram na casa dos Kbps e Mbps, essa diferença ficou irrelevante.
Nesses trinta anos, a velocidade de transmissão evoluiu muito, pois hoje uma transmissão de 1Mbps é mais do que 3 mil vezes mais rápida do que aqueles jurássicos modens do Projeto CIRANDA.
Uma conexão 3G hoje, por exemplo, com 6 Mbps, é 20 mil vezes mais rápida e uma 4G, pode superar em 300 mil vezes. Ou seja, o que se transmite hoje em 3G em um celular em apenas um minuto levaria quase 14 dias para ser transmitido naqueles modens. Se a linha não caísse!
É impressionante a evolução que presenciamos nesses 35 anos!