Big Brother Isabela

A que ponto chegamos!

A cobertura da midia ao caso Isabela Nardoni chegou ao nível de superprodução. Nem o Papa teve uma cobertura tão complexa e bem produzida. Todos os canais da TV Aberta, com a louvável exceção da Rede Gazeta, estão ao vivo fazendo a cobertura, nos últimos 20 dias, de cada ida ao supermercado da família Nardone e agregados.

Estou vendo a hora que o Vinicios Valverde vai aparecer na rede Globo perguntando “Quem você acha que vai para o paredão?”. E depois seguido de uma “crônica” emocionada do Pedro Bial. Na verdade, espero que isso não aconteça. Seria aí sim, a gota dágua. É revoltante a forma como a mídia trata esse caso. Tudo fica meio “novela”, meio “reality show”. A sensação que eu tenho é que os departamentos de marketing das emissoras nunca trabalharam tanto: os intervalos comerciais aumentam consideravelmente durante as coberturas. Eu trato de prestar atenção ao anunciantes, pois não pretendo comprar nada que seja anunciado durante este “Show da Vida”. Isso é uma confissão, eu sei, de que eu estou acompanhando o caso! Bom, eu não disse que era melhor que ninguém…

Não que o caso não tenha importância. Reconheço sua importância. Afinal, uma criança foi morta barbaramente, num intrincado cenário que instiga cada um a tentar entender cada aspecto do que realmente aconteceu naqueles 14 minutos entre a entrada a família no prédio e queda da criança no jardim. A cobertura da mídia lembra os seriados estilo CSI que tanto sucesso fazem na TV a Cabo. Todos os jornalistas, especialistas e entrevistados em geral dos programas começam suas ilações com “Ninguém está julgando os suspeitos, mas…’ E depois do “mas” vem, inevitavelmente, horas de programação e discussão sobre a “comprovada” (apesar de ninguém ter condenado, as provas são sempre “comprovadas”) participação dos “suspeitos”. E essa programação é entremeada de “merchandising” de máquinas fotográficas incríveis (para você guardar os “momentos inesquecíveis” da sua vida familiar), churrasqueiras, vassouras elétricas, espremedoras de suco e tantas outras “utilidades domésticas”.

É um show completo e superproduzido. Globocops, Motolinks, equipes de solo, equipes no estúdio, especialistas convidados, entrevistas de rua etc. etc. Em todos os canais que fazem a cobertura parece que todo o efetivo disponível está envolvido nessa cobertura.

É a hora ideal para as autoridades aprovarem leis, aumentarem a taxa Selic além do esperado, talvez aumentarem seus próprios salários. Criarem, quem sabe, até uma lei para sensurarem a imprensa (aliás, como esse governo já tentou por quatro vezes). Nem a condenação pífia do médico-monstro Farah Jorge Farah a 12 anos de prisão, sendo que provavelmente ele vai ficar 15 recorendo da decisão do tribunal, em liberdade, foi devidamente destacada na imprensa.

Dá até pra jogar outra criança pela janela, sem chamar muita atenção. Como aconteceu logo na primeira semana do caso Nardoni. Só que foi do segundo andar. Isso parece que não é tão importante. Além disso, não era classe média…

Mas o que significa essa comoção toda? Será que é a vontade, ou a esperança, de que a justiça seja feita? De que o monstro, ou monstros, que jogou a criança pela janela, tendo o cuidado de limpar seu rosto antes do ato, sejam jogados na cadeia e esquecidos por lá?

Infelizmente, isso não deve acontecer. Nem a Suzane Richthofen ficou presa por muito tempo. Nem o médico Farah Jorge Farah. Nem mesmo Guilherme de Padua, que matou Daniela Peres ficou na cadeia muito tempo. Sendo que esse último, já pagou sua dívida com a sociedade, e é uma pessoa livre e em dia com a sociedade.

Essa é a nossa sociedade. E não é culpa da polícia, nem da justiça, nem mesmo dos legisladores. A culpa é nossa que ficamos discutindo as evidências e testemunhos e não discutimos as brechas na lei e as falhas que permitem que pessoas perigosas para a sociedade continuem representando perigo para todos nós.

Quando Daniela Peres foi morta, um movimento conseguiu mudar as leis com relação a crimes hediondos. Mas a justiça julgou a alteração anti-constituional. E nada foi feito para discutir a constituição que devolveu aos criminosos os benefícios anteriores.

Espero que agora, em função dos desdobramentos dos próximos dias, a sociedade se mobilize para mudar a constituição, ou pelo menos discutí-la, para que essa sensação de impunidade não se perpetue. Pois outras Isabelas podem ser vítimas, se nada for feito, apesar de todas as evidências.

Mas, sinceramente, acho que nada vai acontecer. Nem com os suspeitos a curto e médio prazo. E nem com nossas leis, a longo prazo. Eu por mim, pretendo fazer algo…mas não sei exatamente por onde começar…alguma idéia?

Comments

  1. Souza.SJC

    Parceiro

    Há alguns pontos da história que jamais vêm a público. Porém a sanha sempre existe, e, de quando em quando, é direcionado contra algum alvo justificável… Os Nardoni são um alvo justificável para a sanha, e qualquer um que ouse, o incauto, dizer: “Gente, vocês estão deixando de prestar atenção em coisa mais importante”, será visto como um insensível…

    Nada melhor que a Mídia bem-comportada para agradar um governante…

    Abraço forte e melhores votos para R&R

    Sylvio José

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